Tecnocracia, tecnologia e democratização: a formação do engenheiro cidadão como condição de possibilidade da construção de um outro mundo possível
Resumo
A formação superior em engenharia costuma ocupar-se basicamente de disciplinas do corpo técnico, desconsiderando, ou não assumindo de forma orgânica e integrada, uma formação que poderia ser chamada de cidadã. Tal opção parece se fundamentar em um duplo equívoco: de que a atuação profissional do engenheiro não demanda sensibilidade ou atenção aos valores sociais em que ela se dá; e de que uma formação para o compromisso e a responsabilidade sociais não lhe concerne. Contudo, se assumirmos que toda implementação tecnológica incorpora necessariamente em si os valores sociais que conseguiram se impor no processo de seu desenvolvimento, e que o nosso status quo é o de uma gestão cada vez mais tecnocrático-capitalista de todos os âmbitos da vida social, então, tomar a engenharia como uma atividade exclusivamente técnica, neutra (em relação a valores sociais), é trabalhar para o aprofundamento dessa ordem. Urge, assim, incorporar uma sensibilização para a democratização na formação do engenheiro. Tal coisa, ademais, não é um desvio da formação superior em engenharia, mas a realização mais adequada do ideal universitário que se pretende com ela. Partindo disso, apresentaremos preliminarmente uma proposta que complementa a formação técnica que temos, de modo a preparar não apenas engenheiros, mas engenheiros-cidadãos.